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O Analista de Taras Deliciosas

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A paródia e o escracho faziam parte dos filmes produzidos na Boca do Lixo do São Paulo. Uma das principais gozações feitas na época áurea do cinema paulista foi o clássico "Bacalhau", dirigido por Adriano Stuart em 1976. "Bacalhau" ou "Bac's" era a resposta brasileira para o "Tubarão" (Jaws) de Steven Spielberg, filmado um ano antes nos Estados Unidos. No início dos anos 80, as pornochanchadas e o cinema de gênero da Boca foram substituídos pelos filmes de sexo explícito. Mas o esculacho não foi abandonado na fase ginecológica do nosso cinema, como prova "O Analista de Taras Deliciosas", a versão pornô do seriado "A Ilha da Fantasia".

"O Analista de Taras Deliciosas" foi dirigido por Fauzi Mansur em 1984, justamente o último ano de produção do seriado americano (1978/1984) com os protagonistas Ricardo Montalban e Hervé Villechaize. O primeiro fazia o papel do Sr. Roarke, o anfitrião da ilha paradisíaca onde os visitantes podiam realizar suas fantasias. Hervé interpretava Tattoo, o anão que era o braço direito do Sr. Roarke. Em "O Analista de Taras Deliciosas" eles são substituídos pelos atores Alan Fontaine e Chumbinho. Quando ambos aparecem na primeira cena da obra pornô trajando ternos brancos, o espectador já percebe a fonte de inspiração de Izuaf Rusnam (o nome do diretor aparece creditado de trás para a frente).

No início de cada episódio de "A Ilha da Fantasia", Tatto aparecia tocando um sino e gritando "olha o avião" para avisar o Sr. Roarke que novos visitantes estavam chegando. Com a peculiar falta de recursos das produções da Boca, os visitantes chegam num ônibus de turismo mesmo. Só faltou colocar o Chumbinho berrando "olha o busão". O mais famoso anão do cinema brasileiro, aqui no papel do mordomo Ling, se limita apenas a avisar o Dr. Moss (Alan Fontaine) de que "está tudo pronto para receber os novos clientes". A ilha paradisíaca é substituída por um clínica que funciona numa espécie de hotel fazenda.

Dr. Moss reúne os auxiliares e explica que todos eles devem se empenhar para resolver os desejos dos visitantes. Uma ninfomaníaca quer transar com um vampiro. Outra tem prazer em enfiar objetos estranhos na vagina. Um cinéfilo pretende ter uma noite de prazer com a atriz Elizabeh Taylor. Um pervertido sonha em ir para a cama com uma freira. Outro quer representar o pistoleiro Billy the Kid enquanto faz sexo. Uma senhora casada quer ser raptada por homens bem dotados. A clientela é formada ainda por um casal de sadomasoquistas, um homem que tem prazer em ver a mulher nas mãos de outro e ainda um aleijado impotente.

No meio dessa turma toda estão perdidos o sobrinho do Dr. Moss e a mulher dele, que foram apenas curtir um final de semana no local. O Dr. Moss alerta sua equipe para que o casal não descubra o real propósito da clínica. O sobrinho recebe a orientação do tio de que nunca abandonem o quarto, principalmente à noite, pois os pacientes podem se tornar perigosos. Claro que o casal fica entediado e não segue a orientação do Dr. Moss, se envolvendo em situações cômicas na clínica. As taras da clientela podem não ser deliciosas como sugere o título, mas são hilárias por conta dos diálogos do roteiro de Wilson Vaz e Waldir Kopeski.

Direção: Izuaf Rusnam (pseudônimo de Fauzi Mansur). Elenco: Alan Fontaine, Chumbinho, Oásis Minitti, Cléo Rodrigues, Walter Gabarron, Eliane Gabarron, Paula Sanches, Antônio Rody, Carlos Nascimento, Marthus Mathias, Oswaldo Cirilo, Nardo Sabatini, Saipy Marquesa, Adauto Salomão, Tereza Rodrigues, Nelson Ramos, Betty Muriel, Vania Bonier, Michele Analidei, Edna Ferreira, Ronaldo Amaral, Carlos Farah, J.Brito, Renata Close, Cristiane Silva, Telma Xavier, Meire Belacosa e Pedro Terra. Duração: 1h24.

Zé do Caixão: do circo ao cemitério

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O cineasta José Mojica Marins vai participar nesta quinta-feira, dia 29, de um evento promovido pelo Centro de Memória do Circo. Ele não irá falar do circo de horrores de seu personagem Zé do Caixão, mas sim de sua atuação como o faquir Ali Khan no filme “O profeta da fome” (1969), de Maurice Capovilla.

O personagem circense foi inspirado no faquir Silki, que por três vezes (nos anos 50, 60 e 80) jejuando durante meses no Largo do Paissandu, na região central de São Paulo. Mojica conheceu Silki e certamente contará histórias interessantes sobre.

O bate-papo com Mojica acontece após a exibição do filme, prevista para as 18h30. O Cine Olido fica na Avenida São João, ao lado da Galeria do Rock e a poucos metros do local onde o faquir Silki costumava fazer suas apresentações há mais de quatro décadas.

Dois dias depois, às 21h de sábado, Mojica estará caracterizado como Zé do Caixão no Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, onde acontecerá a sessão “Fear(s) of the dark”, coletânea francesa de curtas-metragens de terror em animação. Mojica contará uma história de terror antes da exibição dos curtas.

Clássicos e raridades do cinema brasileiro em cópias restauradas

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A Cinemateca Brasileira e o Centro Cultural Banco do Brasil promove desde o dia 21 de abril a segunda edição da mostra CLÁSSICOS & RAROS DO NOSSO CINEMA.

Com curadoria da Cinemateca, a programação oferece uma visão diferenciada da história do cinema brasileiro, apresentando filmes dos mais diversos estilos, gêneros e épocas – dos recordistas de bilheteria ao cinema de invenção das décadas de 1960 e 1970, passando por produções destinadas ao grande público – comédias eróticas, terror, policiais e faroestes – muitas dos quais não encontram as telas desde a época de seus lançamentos.

A maioria dos filmes programados será apresentada em cópias novas especialmente confeccionadas para a mostra. Além das sessões, o público terá a oportunidade de conversar, por meio de uma série de encontros, com muitos dos cineastas e artistas envolvidos nas produções escolhidas.


ENCONTRO COM PATRÍCIA SCALVI
01 de maio - Centro Cultural Banco do Brasil

Atriz versátil, de grande talento dramático, Patrícia Scalvi iniciou sua carreira na Boca do Lixo. Fez inúmeras comédias eróticas e trabalhou com os principais nomes do cinema da Boca – Jean Garret, Fauzi Mansur, Ody Fraga, John Doo, Cláudio Cunha, Antônio Meliande, José Miziara, Luiz Castillini, Alfredo Sternheim, entre outros. Trabalhou também em filmes de Walter Hugo Khouri e Carlos Reichenbach. Patrícia Scalvi conversa com o público no próximo sábado, dia 01 de maio, às 17h00, após a projeção da nova cópia 35mm de Ninfas diabólicas, terror erótico de John Doo, que conta com a participação da atriz. O filme será exibido às 15h00.


ENCONTRO COM ALOISIO T. DE CARVALHO
02 de maio - Cinemateca Brasileira

Diretor de comédias de sucesso como Genival é de morte (1956), Maluco por mulher (1957) e O batedor de carteiras, Aloisio T. de Carvalho fala sobre sua trajetória no cinema no domingo dia 02 de maio, às 20h00. O encontro, a ser realizado na Cinemateca Brasileira, é antecedido da projeção, em nova cópia 35mm, do melodrama criminal Preço de um desejo (1952).


ENCONTRO COM CLERY CUNHA
05 de maio - Centro Cultural Banco do Brasil

Diretor de alguns clássicos do cinema popular paulista, como Joelma 23º andar (1980) e O Rei da Boca, Clery Cunha fala sobre sua carreira no cinema, na televisão e no teatro, no dia 05 de maio, às 19h30, no Centro Cultural Banco do Brasil. A palestra do cineasta é antecedida da exibição, em nova cópia 35mm, de seu filme Os desclassificados (1972), policial baseado em fatos reais, com Hélio Souto, Jesse James e Joana Fomm no elenco. O filme será exibido às 17h00.

O preço dos ingressos varia entre R$ 4 e R$ 8.

Fonte: Cinemateca Brasileira

"Lilian M, relatório confidencial" sairá em DVD

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"Lilian M, relatório confidencial" (1975) é o segundo longa-metragem de Carlos Reichenbach. Depois de dirigir "Corrida em busca do amor" (1972), o cineasta passou a trabalhar exclusivamente com filmes publicitários durante três anos, seguindo conselhos familiares de que deveria se dedicar a um negócio rentável. "Foi um período horroroso, pois eu fazia algo que não gostava, convivia com gente que eu não queria conviver. O lado bom disso foi o aprendizado técnico. Quando comecei a ganhar prêmios publicitários, eu vi que era a hora de ir embora", afirmou o cineasta em encontro com o público da 2ª edição da mostra "Clássicos & raros do nosso cinema", após a exibição de "Lilian M." no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) na noite da última quarta-feira. Carlão também anunciou que "Lilian M" sairá em DVD brevemente.

"Lilian M" conta a história de Maria, que depois vira a Lilian do título. Maria (Célia Olga Benvenutti) é uma mulher entediada com a vida no campo. Sua rotina é levar o almoço para o marido José (Caçador Guerreiro), quando ele está cuidando da plantação de chuchu no sítio arrendado pela família, e acompanhar um dos dois filhos até metade do caminho para a escola. À noite, Maria sempre permanece quieta e estática enquanto José faz amor com ela. Sua vida vai sofrer uma grande mudança quando um caixeiro-viajante (Walter Marins) aparece no sítio em busca de água e comida, após percorrer vários quilômetros a pé depois que seu carro sofre um problema mecânico. O caixeiro, um sujeito galhofeiro, seduz a dona de casa entendiada e a convence a partir dali com ele em direção a São Paulo.

No meio da viagem, o carro ocupado pelo casal se envolve em um acidente com um caminhão e apenas Maria sobrevive. Ela parte para a capital paulista, mas vai parar na prisão porque está sem documentos. Uma assistente social promete ajudá-la e consegue para ela um emprego de doméstica na casa do industrial Braga (Benjamin Cattan). Patrão e empregada começam a ter um caso, levando Braga a comprar um apartamento para Maria, onde os dois possam se encontrar com privacidade. Num desses encontros, após Braga comentar que o nome da doméstica é simples, Maria pergunta qual é o nome da mãe do industrial. Após saber que é Lilian, Maria adota o nome, mesmo a contragosto de Braga.

O relacionamento do casal começa a ser ameaçado por Fausto (Washington Lasmar), bailarino com tendências suicidas que é filho de Braga. Uma nova tragédia dá uma guinada na vida de Lilian. Agora ela está trabalhando como massagista e começa a se relacionar com outro industrial, dessa vez um de seus clientes. Hartman (Edward Freund) é um homem neurótico, cujo passatempo é dar tiros com as armas de sua coleção e criar aparelhos de tortura. Ele usa seus aparatos para torturar Lilian, que recebe quantias volumosas para fazer o papel de masoquista em sessões de choques elétricos. Com o dinheiro desses encontros, Lilian compra um terreno do grileiro Vivaldo Lobo (Wilson Ribeiro), outro de seus clientes da casa de massagem.

Após ser enganada pelo grileiro, mesmo após contratar os serviços do detetive Shell Scorpio (José Júlio Spiewak), Lilian vê sua vida mudar radicalmente mais uma vez. Ela começa a namorar com o assaltante Chico (Lee Bujyja), que, prevendo que seus dias estão contados por causa da tuberculose, a entrega aos cuidados da cafetina Maria Antonieta (Thereza Bianchi). No bordel da xará, Maria conhece o funcionário público Gonçalves (Sérgio Hingst), que tem o costume de tomar prostitutas como esposas. Lilian vai morar com Gonçalves, mas terá que conviver também com a irmã dele, a sorumbática Lucivalda (Maracy Mello). Lilian começa a achar sua rotina enfadonha, pois Gonçalves quer que ela permaneça em casa, e decide deixar a cidade para rever a família que abandonara no campo.

Leia uma análise de "Lilian M" aqui.

A seguir trechos do bate-papo de Carlão após a exibição de "Lilian M" no CCBB:

Filme caseiro
Esse foi o meu filme mais caseiro. Só faltou eu botar a cara. De certa maneira botei, pois aparece uma cena minha em "Corrida em busca do Amor" (na sequência em que Lilian e o industrial Braga estão assistindo o primeiro longa de Carlão num cinema). Eu produzi, escrevi, dirigi. Até a câmera é minha. A trilha sonora também. Toquei os discos de 78 rotações que herdei do meu pai e do meu avô. São músicas que eu cresci ouvindo.

Independência econômica
Eu decidi fazer um filme que eu gostaria de assistir. Usei a estrutura da empresa de publicidade da qual eu era sócio. O filme foi feito dentro da Jota Filmes durante o meu tempo livre, usando a sucata do estúdio para construir cenários. (...) Tinha independência econômica, pois eu só tinha que responder a mim mesmo. Quando eu dirigi "O Império do Desejo", o produtor queria saber toda hora se eu tinha filmado mulher pelada.

"Nosso cinema está careta hoje"
(Depois de rever "Lilian M" em cópia restaurada), vejo como o nosso cinema está careta hoje, perdeu a coragem de ousar. Na época, tinha um enfrentamento com a censura, um embate com o cinema oficial e acadêmico. (Em "Lilian M"), quis fazer uma mistura de escolas: tem cinema B, cinema narrativo e cinema japonês. Uma das referências foi (o trabalho do cineasta japonês) Shohei Imamura, especialmente "Mulher Inseto".

Tortura
Eu pensei que a censura ia cair em cima das cenas de tortura. O industrial alemão era uma referência ao Boilesen. Mas a censura não entendeu, ainda bem. O que não desceu pela garganta da censura foi a questão da família.

Lançamento em DVD
"Lilian M" vai ser lançado pela Heco/Lume em julho. O DVD trará vários extras, como uma entrevista de duas horas comigo, que poderia se chamar "Carlos Reichenbach: arquivo confidencial" (risos). (Em seu blog, Carlão informa que outro extra é o curta-metragem inédito "O m da minha mão" (1980), dele e de Jairo Ferreira)

Cena de impacto
Eu tinha 18, 19 anos quando vi no cinema a cena que causou mais impacto em minha vida. Foi em um filme de educação sexual. Aparecia um cara pelado de frente com cancro. A mão de um médico entrava em cena com um bastão dourado incandescente e enfiava na uretra do sujeito. Para mim, a cena de maior impacto do cinema brasileiro está no filme "Sexo & vida". Você quase caía da cadeira (ao ver a cena). Nem Brian de Palma conseguia esse efeito. Depois de mais de 40 anos, descobri que foi meu amigo Rubens Regino quem produziu esse filme quase escondido. Ele viajava o Brasil de Norte a Sul exibindo esse filme. Lotava os cinemas. Hoje é impossível encontrar esse filme.

Em 25 de novembro de 2009, Carlos Reichenbach escreveu em seu blog Olhos Livres um post sobre "Sexo & Vida". Mondo Cane reproduz o texto de Carlão abaixo:

SEXO & VIDA (Henrique Meyer - 1959)
Vi esse "clássico" num cinema da rua Conselheiro Nébias, atraido por um cartaz tosco mas com uma mulher exuberante seminua desenhada por algum cover de Carlos Zéfiro. O filme, que foi liberado e imediatamente interditado pela Censura Federal, foi um dos primeiros documentários de "utilidade pública" produzidos no país. Além de "ensinar" a moçada a arte do prazer, apresentava detalhes acurados das genitálias masculinas e femininas. Lá pelas tantas, quando a rapaziada estava vivamente entusiasmada com as formas generosas das moças desinibidas do documentário: corte sêco para o close de um pênis em estado de repouco. A mão enluvada de branco de um médico entrava em cena, levantava, apertava e apresentava a cabeça do marçapo para a lente, e empurrando o prepúcio para trás, fazia escorrer o pús gonorréico do orifício infeccionado. Na sequência, a mão enluvada introduzia um bastão dourado incandescente no orifício do pênis. Juro que ouvi gente gritando na platéia.
Venhamos e convenhamos, é muito difícil esquecer uma cena destas. Grito como aquele eu só ouvi no cine Iguatemi, anos e anos depois, no final de CARRIE, A ESTRANHA. 40 e tantos anos depois descubro que foi meu amigo Rubens Regino quem produziu o filme e ganhou uma fortuna viajando com as quatro latas de seiscentos metros - debaixo do braço - pelo Brasil afora, exibindo as duas únicas cópias em 35 milímetros existentes, em sessões especiais só para homens, às onze horas da noite. Os suecos e dinamarqueses ficaram famosos por seus "documentários pedagógicos". Aqui no Brasil, SEXO & VIDA me parece um dos casos únicos e pioneiros. Um autêntico filme de "vanguarda", que mereceria ser urgentemente restaurado. Regino contou para mim e Eugênio Puppo que seria impossível recuparar o filme, já que os seus negativos desapareceram, assim que o filme foi interditado para "todo território nacional".

Uma homenagem ao faquir Silki

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A exibição do filme “O profeta da fome”, promovida pelo Centro de Memória do Circo na Galeria Olido, no último dia 29, foi uma homenagem ao faquir brasileiro Silki, um artista popular que infelizmente não é conhecido pela grande maioria dos brasileiros.

O Centro de Memória do Circo convidou o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, para falar sobre sua atuação como o faquir Ali Khan no filme dirigido por Maurice Capovilla em 1969. O evento contou com a presença de Rose Lopes, nora de Silki.

Antes de reproduzir o bate-papo ocorrido após a exibição do filme na Galeria Olido, Mondo Cane vai (tentar) contar um pouco da história de Silki. Adelino João da Silva nasceu no Rio Grande do Sul em 1922. “Com 9 anos de idade, ele fugiu de casa para trabalhar no circo”, conta Rose.

No circo, Adelino fica fascinado com as proezas do faquir hindu Arnaldo Weiss, o Silki. O hindu vira mestre do menino, ensinando para ele todas as técnicas do faquirismo. Com a morte do hindu, Adelino adota o nome Silki e prossegue com o legado de seu mestre.

Silki vira um artista da fome, realizando o feito de jejuar por mais de três meses nos anos 50, 60 e 80. O faquir entrava em um receptáculo de vidro, onde ficava deitado sobre uma cama de pregos. Para tornar o espetáculo mais atraente, Silki ficava na companhia de duas serpentes.

As performances de Silki aconteciam nas imediações do Largo do Paissandu, na região central. Maurice Capovilla, quando era repórter do Última Hora, foi fazer uma matéria sobre as peripécias de Silk nos anos 60. Foi aí que Capovilla teve a inspiração para fazer “O profeta da fome”.

O faquir brasileiro morreu em 1998, aos 76 anos, de causas naturais. Segundo Rose, Silki foi tetracampeão mundial de faquirismo e já esteve no Guiness Book por conta de seu feito na cama de pregos. “O Silki tinha outros números. Ele já ficou 12 dias enterrado vivo”, lembra Rose.

A seguir trechos do bate-papo com José Mojica Marins após a exibição de "O profeta da fome" na Galeria Olido:

Um dos maiores faquires do mundo
Eu fui muito amigo do Silki. Guardei com muito carinho a guilhotina que ele usava nas apresentações. A fita (O profeta da fome) foi feita para demonstrar quem realmente é o Silki. Ele foi um dos maiores faquires do mundo.

Laboratório para interpretar Ali Khan
O artista tem que se acostumar a tudo. Fui fazer laboratório (para fazer o papel do Ali Khan), passando por vários circos pequenos para sentir os problemas. (A intenção) foi fazer uma homenagem legal para o Silki.

Um homem que desafiava a morte
Silki fazia coisas de arrepiar. Numa fração de segundos, ele retirava a cabeça da guilhotina. O cabelo dele chegou a ser cortado. Ele era um homem realmente fantástico, supercorajoso, desafiador da morte e realmente um batalhador que a gente tem que sentir orgulho.

Uma salva de palmas
Eu tive a felicidade realmente de ser amigo do Silki. Ele tinha vários trabalhos que realmente abalaram o Brasil. Onde quer que esteja a sua essência, eu quero uma salva de palmas para ele.

"Não desejaria isso para meu pior inimigo"
(A urna do filme) foi inspirada na urna do Silki. Realmente não foi muito legal ficar na cama de pregos. Eu fiquei umas horas lá. O Silki ficou mais de 100 dias. Não era fácil (para mim), via prego de um lado e do outro. Não desejaria isso para meu pior inimigo.

A praga da semana
No final do encontro, José Mojica Marins aproveitou para rogar a tradicional praga de Zé do Caixão. Para ver o vídeo, clique aqui.

Para saber mais sobre o filme "O profeta da fome", veja o dossiê feito pela revista Contracampo clicando aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

O Diário Secreto de Sady Baby

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Uma boa samaritana colocou recentemente no YouTube o programa Superpop batizado de "Diário Secreto de Sady Baby", levado ao ar pela Rede TV no dia 3 de abril de 2006. Foi nesse programa que Sady levantou a ideia de fazer um filme pornô com uma de suas filhas. O projeto foi levado à frente no final de 2007, mas o filme "A Filha do Diretor" acabou apreendido pela Polícia Federal antes de ser lançado, conforme noticiado por Mondo Cane em 17 de julho de 2008. De olho na audiência conquistada pela briga entre Sady Baby e o cantor Ovelhada pela paternidade de um menino de 3 anos, a qual rendeu dois programas no segundo semestre de 2005, o Superpop resolveu chamar o cineasta para mais um debate bizarro intermediado pela apresentadora Luciana Gimenez. Vejam os vídeos abaixo e tirem suas conclusões.










Cavalo faz Alex Prado virar cineasta

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Com bastante atraso, Mondo Cane traz uma pequena biografia do diretor Rubens da Silva Prado, a partir de informações levantadas no encontro com o cineasta, que aconteceu na Cinemateca, no dia 30 de abril, após a exibição do filme "Gregório 38".

Rubens da Silva Prado foi pela primeira vez ao cinema com 7 anos de idade. O filme que estava em cartaz era Zorro e o menino ficou impressionado com os cavalos que apareciam na tela. “Na hora pensei: um dia vou fazer um filme montado num cavalo”, sonhou o rapaz, que anos depois iria adotar o pseudônimo Alex Prado para dirigir e estrelar (montado num cavalo), aos 24 anos de idade, o clássico "Gregório 38" em 1969.

Quando deixou a pré-adolescência, Prado decidiu que era hora de ver o seu sonho transformar-se em realidade. O primeiro passo dele era conseguir um trabalho em algum estúdio de cinema, o que ajudariapara ficar mais próximo de seu objetivo. “Procurei alguém que deixasse eu trabalhar num filme. Mas naquela época já havia racismo e diziam que eu era preto e feio. Não desisti da vontade de trabalhar no cinema, mentalizando meu próprio filme”.

Prado disse que conseguiu acompanhar um dia de filmagem de “À meia-noite levarei sua alma”, dirigido em 1963 por José Mojica Marins. Aproveitando que o diretor de fotografia Giorgio Attili estava ausente, o assistente de câmera Nuvem Branca deixou que Prado olhasse no visor da câmera.

“Quando pus o olho no visor e vi o enquadramento, fiquei apaixonado”. Para o azar de Alex Prado, Attili retornou ao set de filmagem e o flagrou bisbilhotando a câmera. “Tira esse olho morfético da câmera. Você vai passar alguma doença”, reclamou o diretor de fotografia, segundo as recordações de Prado.

Constrangido, o jovem retrucou para o experiente diretor de fotografia que um dia ele seria diretor de cinema. “Na época eu tinha 18 anos e o Atilli, 60. Ele deu risada de mim quando eu disse que ia fazer um filme. Você não consegue fazer um filme, ele falou para mim. Aquilo me ofendeu bastante, doeu no coração”.

Continua...

Adeus, Apolônio!

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O comediante Viana Júnior morreu ontem, aos 68 anos, após ter uma insuficiência múltipla de órgãos. Ele sempre será lembrado pelo público como Apolônio, personagem que sofria nas mãos, ou melhor, nos ouvidos da Velha Surda, imortalizada pelo humorista Rony Rios, falecido em 2001.

Viana Júnior precisou se afastar da televisão nos últimos anos por causa de uma ataxia cerebral, doença que impede a pessoa de ter controle sobre seus movimentos musculares. Além da TV, Viana Júnior atuou também em quatro produções do cinema paulista: "Tristeza do Jeca" (1961), "Casinha Pequenina" (1963), "A Árvore dos Sexos" (1977) e "Nem As Enfermeiras Escapam" (1977).






Ivan, a nova produção da Black Vomit Filmes

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Depois do elogiado documentário “Guidable — A Verdadeira História do Ratos de Porão” (2009), o diretor Fernando Rick, de 27 anos, volta a dirigir um filme "doidão", como ele próprio classifica seu curta-metragem "Ivan" (2010). E filmes doidos não faltam no currículo dele, responsável pelas obras "Rubão, o Canibal" (2002), "Feto Morto" (2003) e "Coleção de Humanos Mortos" (2005).

É perceptível como Rick tem evoluído como diretor a cada filme de sua produtora, a Black Vomit Filmes. Assim que saiu da adolescência, Rick pariu "Rubão" e "Feto Morto" ao ser influenciado pelas tranqueiras geniais da Troma (produtora americana de filmes independentes criada por Lloyd Kaufman), que misturam comédia, violência e sexo.

Aos 22 anos, Rick deixou o humor de lado e regurgitou "Coleção de Humanos Mortos", um filme extremo com muitas cenas de tortura. Guardadas as devidas proporções, pois estamos no Brasil, onde ser cineasta deve ser um parto, nessa fase o trabalho de Rick se aproxima de cineastas do naipe de Jörg Buttgereit e Nacho Cerdá.


"Ivan", rodado no mês passado no Centro de São Paulo, é um "drama de humor negro", nas palavras do ator Rubens Mello, que interpreta o travesti Darlene Starr. O curta tem como protagonista o ator André Ceccato, que já participou de vários filmes brasileiros, entre eles "O país dos tenentes" (1987), "Bicho de sete cabeças" (2001) e "Carandiru" (2003).

Ceccato é Ivan, dono de um teatro decadente que precisa vestir uma fantasia de Mickey sob um sol escaldante para entregar panfletos e, assim, garantir o seu sustento. Ele mora num cortiço e seus únicos companheiros são o travesti Darlene Starr e um rapaz que ganha a vida fazendo cover de Michael Jackson em botecos e outros muquifos.


A vida de Ivan sofre uma reviravolta depois que ele vai fazer um teste de figurante numa emissora de TV. No caminho para casa, Ivan vê Darlene ser espancada por delinquentes juvenis. Ele tenta ajudá-la, mas também acaba agredido até seu rosto ficar desfigurado. Apesar de tanto sofrimento, Ivan conseguirá sua redenção.

"É meu primeiro curta com uma produção grande, com uma equipe e equipamentos adequados. O resultado está ficando muito foda, acima até do esperado. Em grande parte, isso se deve ao talento de todo mundo que ralou igual camelo por acreditar nesse projeto bizarro", diz Rick.


"Espero que o público simpatize com o filme, porque deu um trabalho do cão para fazê-lo. Hoje em dia não tem muita gente, pelo menos no Brasil, que se dedica a um projeto maluco desses, com personagens (que vivem) à beira da sociedade", continua o diretor, que mais uma vez trabalhou ao lado de Marcelo Appezzato, co-diretor de "Guidable".

"Quis trabalhar esses personagens de uma forma bizarra, ao estilo (dos cineastas David) Cronemberg e Gaspar Noé, e não como os personagens marginais da favela e do sertão que são mostrados com frequência no cinema brasileiro. Ninguém aguenta mais (esses tipos de personagens)", conclui Rick.

Mondo Cane no set de filmagem
Mondo Cane acompanhou um dia de filmagem de "Ivan" porque seu escriba foi convidado para fazer uma figuração numa das cenas do filme. Não dá para revelar muito dessa participação sem entregar o desfecho do filme. Esperem para ver "Ivan" até o final deste ano em um festival perto de você.

Na foto acima, os boas-pintas Fausto Salvadori, André Ceccato e Gio Mendes

Eu tenho uma camiseta do anão Chumbinho

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Desde criança gosto de usar camisetas com estampas relacionadas às coisas que eu gosto. Nunca gostei de transformar meu peito em outdoor de grifes como Nike e Adidas, por exemplo. Faria isso se recebesse algum cachê para divulgar os logotipos dessas empresas. Quando eu era criança, no final dos anos 70 e início dos 80, costumava vestir camisetas de personagens da Turma da Mônica e da Hanna-Barbera.

Aos 12, continuava lendo gibis e vendo desenhos animados, mas comecei a me interessar pela música heavy metal. Foi quando pentelhei minha mãe e consegui uns trocados para comprar umas t-shirts do Iron Maiden e do Metallica. Mas pouco tempo depois conheci o punk rock dos Ramones e o hardcore do Ratos de Porão e virei a casaca, digo, a camiseta. Com meu primeiro salário, quando tinha 13 para 14 anos, comprei uma camiseta com a capa do disco "Crucificados pelo sistema", primeiro trabalho do Ratos.

Ao longo de 30 anos, ostentei todo tipo de estampa em minha caixa torácica. Algumas delas, colocaram minha vida em risco, como camisetas de bandas punks (nos anos 80 e parte dos 90 havia muita briga entre facções) e do meu time de coração, o Corinthians (que evito usar em dias de jogos diante da selvageria das torcidas organizadas, cujos integrantes são mais selvagens que o mais empedernido skinhead).

Quando tinha 20 e poucos anos, sempre quis ter uma camiseta com algum detalhe pornô, mas nada explícito, é claro. Como não achava nada no mercado, resolvi fazer a minha própria t-shirt e estampei o logotipo Buttman numa delas. Essa camiseta virou folclórica entre coleguinhas da imprensa porque a usei durante uma coletiva com o então governador Geraldo Alckminn.

Não preciso mais me preocupar em fazer minhas próprias camisetas pornô. Agora posso contar com os serviços do site La Bianca, que faz por encomenda qualquer t-shirt. Finalmente tenho uma camiseta do maior ator que o cinema pornô brasileiro conheceu, o anão Chumbinho. Você também pode embelezar seu peito com estampas da Belladonna e da Linda Lovelace, entre outros modelos disponíveis, clicando aqui.

Primeiro pornô 3D faz 20 anos

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A Folha.com noticiou recentemente que a Hustler seria responsável pela produção do primeiro filme pornô com cenas em 3D. Na verdade, a primeira obra do gênero com sequências tridimensionais foi dirigida pelo mestre Anthony Spinelli em 1990, ou seja, há exatos 20 anos.

"Princess Orgasma and the Magic Bed" traz no elenco as deusas Nina Hartley, Debi Diamond e Diedre Holand, entre outras atrizes, ao lado dos veteranos Joey Silvera, Buck Adams e John Doug. O filme foi lançado nas locadoras do Brasil como "A princesa Orgasma e a cama mágica" entre o final de 1992 e o início de 1993.

Na época do lançamento, a novidade chamou a minha atenção. Quem alugava a fita VHS, levava para casa o tradicional óculos para filmes 3D, com uma lente azul e a outra vermelha.

Não me recordo se "A princesa Orgasma" foi o primeiro filme 3D que vi na minha vida. Ou se foi "Freddy's Dead: The Final Nightmare", de 1991, uma das piores partes da série "A Hora do Pesadelo", que assisti no cine Marabá no mesmo período em que o pornô 3D chegava no Brasil.

A história de "A princesa Orgasma" é bem simples. Cada casal do filme passa a ter viagens alucinógenas, antes mesmo de fazer sexo, apenas ao subir na cama mágica do título, que pertenceu à princesa Orgasma há um século. Maças e vibradores voam ao redor dos protagonistas e do espectador que está usando os óculos 3D.

Mas a melhor coisa do filme é ver estrelas como Nina Hartley e Debi Diamond em cenas de sexo explícito em terceira dimensão. Quem não queria ter a impressão de se sentir no mesmo set com essas mulheres? A única desvantagem era continuar assumindo o papel de voyer, mesmo com a sensação de estar a poucos metros das estrelas do pornô americano.

(Mondo Cane agradece a Asahi Video por fornecer a imagem da capa que aparece nesse post. A Asahi é uma locadora especializada em filmes pornográficos há 20 anos. Conheça o site dela clicando aqui)

Prostituta fantasma volta para assombrar colegas

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Certa vez num quarto de hotel barato, no centro de São Paulo, após uma bela de uma foda, uma GP (garota de programa) do Teatro Orion contou-me uma história de arrepiar. Disse ela ter sido vitíma de assombração numa noite em que dormira nos aposentos daquele velho e sinistro teatro.

Segundo a garota, naquela noite ela resolveu que dormiria lá mesmo já que morava longe e não tinha muita disposição para dirigir. Esperou que todos fossem embora e que o teatro fechasse.

Ela foi até um quarto instalado nos fundos do teatro, longe da vista do público, ficando totalmente solitária naquele local escuro e sombrio. Na época ainda não havia as suítes recém-construídas que existem hoje.

Para se fazer programas, os clientes tinham que sair com a garota para um hotel nas redondezas, geralmente uma espelunca qualquer.

Portanto, aquele era o único quarto disponível que havia para ela dormir no teatro. Tratava-se, na verdade, de um cubículo com uma cama improvisada, instalado dentro do camarim das garotas.

A GP tratou logo de se acomodar. No quarto não havia TV, então ela deitou-se, apagou a luz e esperou o sono chegar. Já passava da meia-noite quando ela conseguiu finalmente dormir. Na calada da noite, ela despertou pensando ter ouvido alguém tentando abrir a porta do quarto que estava trancada.

Ainda sonolenta, ela pensou que tivesse tido apenas uma falsa impressão e voltou a dormir. Longe dos ruídos noturnos do agito da Rua Aurora e redondezas, a garota repousava sob um total silêncio, quase sepulcral. Tivera um dia agitado, bebera além da conta e fizera bons programas. Meteu bastante.

Mas um mal súbito a acordou no meio da noite. Assustada, agora ela tinha a certeza que não estava sozinha no quarto escuro. A garota podia perceber um vulto a observá-la. Talvez fosse um sonho ou um pesadelo, mas bastou alguns segundos para que a GP tivesse a plena certeza de que estava acordada e de que a situação era real: tinha alguém no quarto com ela.

Seja lá quem fosse, o vulto abriu a porta. Ela pode ouvir os passos. Com o coração batendo forte e totalmente paralisada, a garota não ouviu mais nada. Nem sequer os passos da pessoa nas escadas de metal, único local de acesso para quem quer sair dali e dirigir-se para a parte de fora dos bastidores do Teatro Orion.

Não era possível que essa pessoa não tivesse saído dali sem passar pelas escadas sem fazer barulho. Apavorada, a garota não conseguiu mais dormir e tampouco adquirir coragem para levantar da cama e verificar o que estava acontecendo.

Deitada em seu leito de horror, a GP delirava, quando lhe ocorreu a lembrança do triste episódio da garota que morrera no palco durante o show que fazia. Para pavor de todos que estavam no teatro naquele dia. Já seminua, a garota teve um ataque súbito e caiu estirada no chão. Foi socorrida e levada, do jeito que estava, por uma ambulância para o hospital.

Mas já era tarde demais para a garota. Morrera a caminho do hospital ou quem sabe já estivesse morta quando caíra desfalecida e nua sobre o palco, no último show de strip de sua insignificante vida. Dizem que essa infeliz puta fora vítima de uma cirurgia plástica mal feita de implante de silicone nos seios.

Na época era moda ter peitões siliconados. E quase que uma obrigação para as putas também tê-los. Mas como as GPs do Orion gozavam de poucos recursos, então elas procuravam qualquer carniceiro que lhes deixasse os peitos mais vistosos para deleite dos tarados de plantão. cobrando um valor acessível. No caso dessa pobre infeliz, o barato lhe saiu caro e acabou lhe custando a vida.

A GP que decidiu dormir no Orion começou a sentir calafrios ao lembrar das histórias que ouvira de outras garotas, que juravam ter visto a falecida vagando pelos bastidores do teatro no intervalo dos shows. Com a mente tomado por essas lembrancas terríveis, ela passou o resto da noite em claro.

Ficou ali acordada até o amanhecer. Quando, finalmente, viu a claridade do dia, a GP tomou coragem e saiu de seu quarto. Com apenas a cabeça para fora do quarto, de espreita atrás da porta, ela olhou por todo o estreito corredor da parede final até as escadas de metal e nada viu de estranho. Vestiu-se e foi ao banheiro onde não havia niguém. Ela estava completamente sozinha.

Seria essa história verdadeira? Ou apenas um delírio macabro?

Bom, claro que o universo das garotas de programa é extremamente fantasioso e feito de mentiras. Mas dois amigos meus, que se dizem sensitivos ou algo assim, juram de pé junto que o Teatro Orion está tomado por energias negativas. Seja lá o que for isso. Inclusive, um deles, teve um surto de loucura certa vez, aprontando os diabos lá dentro, jogando lata de cerveja no chão, fumando onde não podia fumar e beijando a testa do segurança até ser retirado à força do local. Ensandecido, ele bradava: "Eu sou o Renato Mendes, tirem as mãos de cima de mim. Eu sou o Renato Mendes. Vocês me pagam, eu tenho um laptop". Sinistro!

Para mim, o Teatro Orion não traz mau agouro algum, muito pelo contrário. Sinto uma paz interior intensa quando estou naquele recinto. O Orion é para mim um santuário (ops), onde posso descansar e orar em paz, em nome da santa putaria, longe da inquisição do dia-a-dia e das assombrações do cotidiano maçante.

A única assombração que vejo ali são as mulheres feias e pavorosas que existem aos montes. Verdadeiras filhotes de cruz-credo. E isso não é pouca coisa.

(Texto de Baby Doc, matemático e pornófilo, em colaboração exclusiva para Mondo Cane. A arte que ilustra esse post é do desenhista Fulvio Pacheco)

Censura eu também, Folha!

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Pau que bate em Chico, não deve bater em Francisco. O jornal Folha de S.Paulo, que se diz um defensor da liberdade de expressão, entrou na justiça contra um site de humor que tirava um sarro da linha editorial do jornal, mostrando que o apartidarismo do jornalão não passa de uma balela.

Os idealizadores do site Falha de S.Paulo tiveram que retirar todo o conteúdo do ar para não correr o risco de desembolsar R$ 1.000 por dia. Curiosamente, a Folha conseguiu a liminar no dia 30 de setembro, quatro dias depois de publicar em sua primeira página um editorial com o título
“Todo poder tem limite”.

No caso da Falha, a Folha mostrou que não teve limite para usar seu poder. O jornal já enfiou um processo nos criadores do site, em vez de procurá-los para mostrar o descontentamento do jornalão com a sátira.

"A gente ficou muito inconformado, porque foi de uma incoerência atroz. A gente não tem advogado, a gente não tem nada! A gente nem viu o processo. É de uma violência absurdamente grande, totalmente incoerente com o que a própria Folha defende", declarou ao Portal Imprensa um dos criadores do site, o jornalista Lino Bochini.

A advogada da Folha, Taís Gasparian, alegou que o jornal não queria censurar o site, mas apenas impedir o uso indevido da marca Folha de S.Paulo. Uso indevido? Os caras apenas satirizaram uma marca, coisa que o colunista José Simão tem liberdade para fazer no jornalão da família Frias. Aliás, como bem lembrou o mano Fausto, do blog Boteco Sujo, quando o Simão foi vítima da mesma censura judicial por conta de uma piada que ele fez com a atriz Juliana Paes, a mesma advogada disse que a decisão do juiz tratava “o humor como ilícito e, no fim das contas, é a mesma coisa que censura”.

É justamente por causa da atitude censora da Folha de S.Paulo que, a partir de hoje, Mondo Cane, republicará parte do material da Falha de S.Paulo.



Atualização: Apesar de não ser político (deus que me livre), sou péssimo para cumprir promessas e não republiquei o conteúdo do Falha de S.Paulo. Mas nem foi preciso. De maneira criativa, os responsáveis pela sátira que incomodou o jornalão da família Frias retornaram com o site "Desculpe a nossa falha". Lá é possível conhecer o risível processo movido pela Folha de S.Paulo e ficar por dentro de todo o barulho causado pela brincadeira dos irmãos Bocchini.

Fuk Fuk à Brasileira

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“Fuk Fuk à Brasileira”, de 1986, é um dos filmes mais nonsenses da fase pornô do cinema da Boca do Lixo. Dirigido por Jean Garrett (um dos vários gênios do cinema brasileiro que caíram na pornografia pra poder pagar as contas no final do mês, já que nos anos 80 os exibidores de filmes só exigiam obras com cenas de sexo explítico), “Fuk Fuk” é uma obra-prima do mau gosto.

O protagonista do filme é o anão Chumbinho, que narra suas peripécias ao longo da película (sim, essa obra passou nos cinemas do País). “Oi, eu sou Siri. Sou mudo, mas mesmo assim fui escolhido para lhes contar minha história”, diz o personagem de Chumbinho, sem mexer os lábios. A voz em off explica que conseguimos ouvir Siri porque ele é um telepata. Ele continua: “Desde que me lembro, sou anão. Fugi de casa pequeno e fui trabalhar na casa do doutor Júlio e de dona Lia”.

Siri sempre está perto de Júlio e Lia, mesmo quando o casal está transando. Ele é uma espécie de mordomo, que deve estar presente, por exemplo, para preparar o banho de dona Lia assim que ela termina de fazer sexo com o marido. Toda sexta-feira, doutor Júlio traz presentes para a esposa e para o empregado Siri. Lia sempre ganha joias e perfumes. Já Siri, toda vez recebe um vibrador. A coleção de consolos fica num armário do quarto de empregado.

Certa noite, Júlio e Lia recebem a visita da amiga Claudinha. Os três vão para a cama, enquanto Siri fica sobre uma cadeira esperando por alguma ordem. Dessa vez, o anãozinho está nu, usando apenas uma gravata. Não demora muito, e Júlio faz um pedido para ele:

- Siri, vai na cozinha pegar manteiga.

O serviçal obedece. Ao retornar para o quarto, recebe nova ordem:

- Passa no cuzinho da Claudinha. Ela não é nenhuma Maria Schneider, mas eu vou lhe comer o rabo.

Claudinha não gosta do comentário e deixa o quarto, mas antes dispara:

- Olha aqui, você também não é nenhum Marlon Brando, viu?

Antes de se contentar em fazer sexo anal com a esposa, Júlio dispensa Siri do quarto, dizendo que ele pode descansar. O anão vai até a sala, se joga no sofá de bruços e tira um cochilo.

Júlio começa a passar o produto gorduroso no ânus da esposa, quando ela diz:

- Amor, pela viscosidade parece margarina.

- Mas é margarina mesmo. Não estamos em Paris e sim no Brasil.

Lia desiste e também deixa o quarto. Ao descer as escadas, Júlio dá de cara com Siri com o bundão (no caso dele, bundinha) virado para cima e pensa:

- Se não tem cu, vai tu mesmo.

Ao sentir as mãos de Júlio apalpando seu traseiro, Siri acorda assustado e corre pro banheiro. Ainda tarado, Júlio faz de tudo pra arrombar a porta e algo mais. Desesperado, Siri entra na privada e dá descarga. O anão vai parar num bueiro. Depois ele volta pra casa escondido, na calada da noite, só pra pegar sua coleção de consolos, que guarda numa caixa de isopor. Depois o anão vai buscar refúgio na pensão de um casal de portugueses. Siri dá uma de seu Madruga e fica enrolando para pagar o aluguel. Ele justifica para o telespectador, sempre falando mentalmente:

- A poupança que eu tinha era um pouco menor do que eu e já tinha acabado há muito tempo. E emprego, sabe como é... o que pode fazer num país de terceiro mundo um cara que é anão, preto, semianalfabeto, mudo e sem vontade de trampar?

Achou bizarro? Tudo isso que foi descrito até agora acontece somente nos primeiros minutos do filme. Ao longo da fita, Siri ainda tem o ânus improvisado como cinzeiro de charuto, dialoga com um cavalo falante e ainda corre o risco de ser castrado numa praia por um zeloso pai de família, entre outras presepadas.

Direção: J.A. Nunes (pseudônimo de Jean Garrett baseado em seu nome verdadeiro, que era José Antônio Nunes Gomes da Silva). Elenco: Chumbinho, Bianchina Della Costa, Iragildo Mariano, Lia Soul, Walter Gabarron, Flávia Sanches, Abel Constâncio, Oásis Minitti, Pedro Terra, Solange Dumont, Oswaldo Cirilo, Fátima Funny, Lilian Villar, Francisco Rezende, Andrea Pucci e Mauro Pinto. Duração: 1h10.

Por dentro de Regina Rizzi

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Fiquei fascinado ao ver o desempenho da atriz pornô Regina Rizzi em um vídeo da série gringa Mike in Brazil. Nunca tinha visto antes um filme dessa gaúcha que ostenta 130 centímetros de quadril. Depois de conferir os trabalhos dela em outras obras pornô, tentei marcar uma entrevista com Regina para Mondo Cane. Não tive sucesso, pois a mulher vivia viajando para fazer shows em boates ou programas sexuais. Então pedi para o cineasta Valter Noronha escrever um texto sobre as impressões que ele teve quando viu essa gostosa pessoalmente pela primeira vez.

"Sem dúvida alguma posso dizer que Regina Rizzi é uma das grandes revelações do pornô nacional. E isso em todos os sentidos. Antes da Erotika Fair de 2009, eu desconhecia quem era essa mulher. Mas sabia que iria encontrar atrizes veteranas e novatas nesse evento. Quando estava no stand da Morgana Dark vendo a própria tirar fotos com seus fãs, reparei em uma morena com um corpo do tipo “gostosa da laje” sendo simpática e tirando fotos junto com uma loira também muito bonita.

Resolvi me aproximar e me identifiquei dizendo que gostava de seus filmes (claro que foi conversa fiada). Ela me agradeceu e perguntou se eu havia gostado mesmo dos filmes. Disse que sim e pedi pra tirar uma foto ao lado dela, no qual fui prontamente atendido. Depois de me despedir, fui conferir outras atrações da feira, mas já com aquela curiosidade de ver alguma cena dela.

Só me esqueci de um detalhe simples e essencial: não tinha perguntado seu nome. A sorte (muita sorte, aliás) é que alguns dias depois eu vi uma foto dela numa comunidade do Orkut (Discutindo o Cinema Adulto) onde participo ativamente. Lá perguntei o nome dela e um amigo respondeu: Regina Rizzi. Daí pra procurar os vídeos dela foi um pulo e me surpreendi com sua capacidade de encarar as cenas de sexo, mesmo sendo claramente prejudicada em algumas, como na cena com o Don Picone, que poderia ter sido muito melhor, não fosse a arrogância extrema do ator.

Mais algumas cenas depois e fiquei convencido de que ela realmente gosta de sexo, faz por prazer e ainda tem a vantagem de ter um corpão que atende uma boa parcela do público, que gosta das atrizes mais fartas. Até sua canastrice em cena deixa tudo mais divertido para o espectador. Diria que ela tem um grande futuro na indústria dos filmes adultos nacionais. Resta saber se essa indústria vai sobreviver e se vai conseguir se renovar, pelo menos para que atrizes do porte de Regina Rizzi não fiquem, injustamente, esquecidas pelos caminhos muitas vezes indigno e cruel do mundo pornô". (Valter Noronha)


Valter Noronha (acima, com a exuberante Regina Rizzi toda de branco) dirigiu o documentário Borboletas e Devassas, sobre o pornô da Boca do Lixo, e finaliza um segundo, dessa vez abordando o pornô tupiniquim nos anos 90 e 2000. Saiba mais sobre Borboletas e Devassas clicando aqui e aqui.

Maloca perde Bonitão

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O malandro Maloca não vai mais poder contar com o apoio de Bonitão para livrá-lo de suas trapalhadas. Bonitão era o personagem interpretado pelo humorista Dino Santana, que morreu aos 70 anos um dia depois do Natal de 2010. Ele sofria de câncer de próstata. Dino era irmão do trapalhão Dedé Santana, o Maloca da dupla que ele fez com o irmão no início de carreira na TV Tupi nos anos 60.

Maloca e Bonitão foram parar no cinema quatro anos depois, sob a direção de um dos mestres da Boca do Lixo de São Paulo. A dupla interpretada pelos irmãos Santana apareceu nos filmes "Deu a louca no cangaço", de 1969, e "2000 anos de confusão", de 1970.

Dino ainda atuou em outros dois filmes de Fauzi, mas sem fazer o papel de Bonitão. Em "Os paqueras", de 1970, ele aparece ao lado do irmão Dedé e do humorista Renato Aragão, o Didi. Já em "O Mulherengo", de 1976, Dino faz uma rápida participação, dessa vez sem a companhia do irmão. Ele atuaria também em comédias dos diretores Carlos Coimbra e José Vedovato, antes de ir trabalhar nos filmes dos Trapalhões.

Além do cinema, Dino Santana participou de várias esquetes do programa Os Trapalhões, na TV Tupi e na Rede Globo, nos anos 70 e 80. O seu último trabalho na tevê foi no programa "Dedé e o Comando Maluco", exibido no SBT nos anos 2000 e que chegou a ter mais audiência que "A Turma do Didi", da Rede Globo.

No final dos anos 90, tive a honra de conhecer Dino Santana durante uma reportagem policial. Eu trabalhava no Diário Popular e Dino era um dos diretores dos programas que o Sérgio Mallandro fazia na CNT/Gazeta. O irmão de Dedé Santana acompanhou Mallandro até o 78º DP (Jardins) por causa do uso de uma arma de fogo em uma pegadinha (isso é assunto para um outro post).

Em uma conversa informal que tive com ele na delegacia, Dino Santana falou com orgulho do irmão famoso. Ele também lembrou com saudades dos tempos da TV Tupi e da Rede Globo. Cinco anos depois desse episódio na delegacia, Dino voltaria a trabalhar com Dedé na televisão. Maloca sofreu um baita baque com a morte de Bonitão. "Estou arrasado, ele era meu braço direito. Eu não dava um passo sem ele ao meu lado. Ele foi um grande colaborador do humor brasileiro, é uma perda enorme para todos", disse o irmão Dedé Santana para o site G1 no dia da morte de Dino.

O último grande herói do jornalismo popular

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Na foto ao lado, que faz parte do acervo de José Carlos Riccetti, Hélio Santos aparece todo serelepe na companhia do travesti Joyce. A boneca foi fonte de uma matéria do mestre sobre aplicação caseira de silicone nos travecos que queriam ter mamas.

São Paulo é o túmulo do jornalismo popular. Dois dos últimos jornais paulistas voltados para o povão foram sepultados em 2001: Notícias Populares e Diário Popular. Como não havia mais nenhum grande representante do gênero no estado de São Paulo, os cariocas do Meia Hora decidiram montar uma redação na capital paulista no ano passado. Em 4 de março de 2011, quase uma década depois da morte do NP e do Dipo, o Meia Hora de São Paulo também batia as botas, depois de divertir seus leitores durante sete meses. Mas isso é assunto para outro post.

Lembrei a agonia do jornalismo popular no maior estado do Brasil porque veio à tona, recentemente, a notícia da morte de Hélio Santos, o último jornalista veterano que ralava nas vielas da periferia em busca de casos policiais que seriam estampados num veículo impresso. Hélio Santos ficou desempregado aos 62 anos, após o Grupo Folha tomar a “decisão empresarial” de acabar com o NP. Depois disso, ele se tornou um sujeito recluso e não mantinha mais contato com os amigos.

Ninguém mais sabia do paradeiro do Hélio Santos, até que a revista Trip deste mês trouxe a bomba: Hélio Santos estava morto. E já fazia três anos. O furo foi do repórter Décio Galina, um orfão do NP que buscou abrigo na Trip assim que o jornal entrou em óbito. Décio descobriu que Hélio Santos morreu sozinho em casa, dois dias antes do Natal de 2007, depois de voltar do supermercado. “Comprou frango e morreu no Natal”é o título da matéria sobre a morte de Hélio publicada na última Trip. Um belo texto, acompanhado de uma grande ilustração que homenageia o extinto NP.

Vale a pena lembrar que alguns meses antes o repórter Bruno Lupion tentou descobrir o paradeiro de Hélio Santos. Ele me procurou perguntando se eu sabia do veterano jornalista. Eu tive o privilégio de conhecer o Hélio Santos no final dos anos 90 e trampar ao seu lado até o início dos anos 2000 (ele no NP, eu no Diário Popular), mas, como muitos amigos dele, não tinha o seu contato. Passei para o Bruno o telefone do motorista José Carlos Riccetti, que trampou com Hélio Santos. Nem o Zé Carlos e o fotógrafo José Maria da Silva sabiam por onde andavam o colega de trabalho. Isso não impediu o Bruno de escrever um texto bacana, intitulado “Black-tie mundo cão: em busca de Hélio Santos”.

Hélio Santos foi o último grande herói do jornalismo popular. Era um dos poucos idosos que ainda tinham espaço na imprensa para rodar pelas ruas de São Paulo (hoje os jornais preferem cada vez mais os repórteres mais jovens, pois eles têm saúde para aguentar as horas extras diárias que agora viraram rotina nas redações). Não tenho muito a acrescentar sobre Hélio Santos, pois quase tudo que sei dele aparece nos textos do Décio Galina e do Bruno Lupion. Lembro de uma conversa que tivemos no bar Estadão, no Centro de São Paulo, quando disse para ele que o pessoal da minha quebrada nunca falava tirombaço como sinônimo de disparo de arma de fogo. "Eu também nunca ouvi isso. É coisa de uns intelectuais da USP que apareceram no NP e pensam que podem falar como o pessoal da favela", disparou Hélio Santos.

Pio, o cineasta ignorado pela cidade

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Não foi mera coincidência. No mesmo mês em que o poder público adotou a política da “dor e sofrimento” para tentar escorraçar os usuários de droga da cracolândia, a região perdeu um de seus moradores mais ilustres. Assim como os “noias” que ainda vagam pelo bairro da Santa Ifigênia, agora driblando o olhar de um batalhão de policiais, o italiano Pio Zamuner passou décadas desprezado pela cidade, apesar de sua importância para o cinema brasileiro.

Pio morreu aos 76 anos no dia 20 de janeiro, mas continuou vítima da indiferença. Não ficamos sabendo pelos jornais ou pelos programas de televisão que o italiano que dirigiu 12 filmes de Mazzaropi havia nos deixado no mesmo ano em que será comemorado o centenário do comediante que imortalizou a figura do Jeca na tela grande.

Nenhum governante decretou luto oficial para homenagear Pio por sua contribuição para a cultura brasileira. Quase ninguém sabe que a região da cracolândia, onde Pio fixou residência durante 44 anos na Rua dos Andradas, foi um grande centro de produção de filmes entre os anos 60 e 80.

Nessa época áurea, a região era conhecida como Boca do Lixo. Cineastas, técnicos, atores e atrizes conviviam harmoniosamente com as prostitutas que ganhavam a vida nas ruas do centro. Também deviam circular traficantes pelo pedaço, mas nada comparado ao grande mercado de drogas a céu aberto em que se transformou a região nos últimos 20 anos.

“Ninguém mexia com a gente naquela época. Todo mundo se respeitava”, disse-me Pio pela enésima vez em um dos últimos encontros que tivemos em um bar na Rua do Triunfo, onde o italiano adorava tomar uma cachacinha como bom brasileiro.

Apaixonado pelo cinema, Pio gostava de lembrar que tinha trabalhado como técnico para cineastas como Walter Hugo Khouri, Anselmo Duarte e Carlos Coimbra. E também lamentava a chegada dos filmes de sexo explícito nos anos 80, o que para ele ajudou a acabar de vez com o cinema popular que era feito na Boca do Lixo.

Com o passar dos anos, Pio passou a ficar preocupado com o crescente movimento de “noias” na região. “A Boca foi esquecida pelos governantes e até pelo povo do cinema”, disse-me certa vez. Mesmo assim, ele e o inseparável amigo, o também cineasta Rodrigo Montana, de 71 anos, nunca abandonaram a região. Para a infelicidade de Montana, agora ele se tornou o morador mais ilustre da área.

Mesmo com a morte de Pio, Montana não se verá livre tão cedo do bom papo do italiano. “Acho que ele apareceu dias desses para falar comigo”, contou-me, recentemente por telefone, o cineasta que sempre acreditou na comunicação com espíritos. A essa hora Pio também já deve ter encontrando o Jeca no céu e colocado a fofoca em dia.

O começo do ano realmente foi de dor e sofrimento para a turma da Boca. Em menos de duas semanas, outro estrangeiro que ajudou a abrilhantar o cinema brasileiro nos deixou porque também enfrentava problemas de saúde. Se a partida de um cineasta que fez carreira como diretor de grande parte das obras de Mazzaropi, um fenômeno de bilheteria, foi completamente ignorado pela mídia, não é se de admirar a ausência de notícias sobre a morte do chinês John Doo aos 69 anos.

Acho que é exigir muito da curta memória do brasileiro que ele se lembre de que John Doo foi diretor de filmes. Talvez apenas os amantes e estudiosos do cinema vão recordar das realizações dele atrás das câmeras. Quem tinha mais de 18 anos para entrar no cinema no início dos anos 80 certamente se lembrará do John Doo ator em papéis marcantes como o do pasteleiro que mata prostitutas para ter o principal ingrediente da sua iguaria. Nunca o nosso cinema foi tão gostoso.

Texto publicado originalmente na edição de 12 de fevereiro de 2012 do Jornal da Tarde

Que beleza de curral

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Daqui algumas horas estreia a quinta edição de A Fazenda, reality show produzido pela Rede Record. ,Dessa vez tem mulheres para todos os gostos: Ângela Bismarchi (a versão feminina de Frankenstein), Gretchen (cantora que já rebolou em filme pornô), Nicole Bahls (ex-panicat marombada, mas mesmo assim gostosa), Penélope Nova (ex-VJ e ex-gordinha), Robertha Portella (ex-dançarina do Domingão do Faustão) e as sambistas Shayene Cesário, Simone Sampaio e Viviane Araújo (ex-Belo que tem o mais belo derriere de todas as participantes). Qual delas você gostaria de levar para a roça?

A primeira vez em uma sala especial

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Quase beirando os 40 anos de idade, pela primeira vez na vida vou assistir a um filme pornográfico em uma sala de cinema. No dia 7 de julho completam-se 30 anos da exibição de Coisas Eróticas, o primeiro filme pornô brasileiro, que foi produzido em São Paulo. Para comemorar a data, os jornalistas Hugo Moura e Denise Godinho vão lançar o documentário A Primeira Vez do Cinema Brasileiro, no Cine Windsor, mesmo local onde milhares de paulistanos (e também moradores da cidade que nasceram em outros Estados e países) disputaram uma cadeira em 1982 para ver coisas muito mais que eróticas. Junto com o documentário será exibido também o primeiro pornô brasileiro.

Quando o cineasta Raffaele Rossi começou a planejar a direção de Coisas Eróticas no ano de 1981 em seu escritório na Boca do Lixo, eu ainda não tinha completado 8 anos. Rossi estava empolgado com o lançamento no Brasil do filme japonês Império dos Sentidos, em plena ditadura militar. Considerado um filme de arte, Império chamou a atenção por algumas cenas de sexo explícito que recheavam a história de um amor obsessivo e doentio entre uma empregada e seu patrão. O filme, dirigido por Nagisa Oshima, em 1976, foi liberado sem cortes pelo Conselho Superior de Censura em 11 de setembro de 1980, depois de ter sido exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo graças a um mandado judicial.

Rossi percebeu que poderia ficar rico (e ficou) ao explorar o filão da sacanagem. Se Império já tinha causado tanto auê com míseras sequências de sexo explícito, como o público brasileiro reagiria diante de uma filme totalmente pornográfico e com atores e atrizes falando a sua língua? A recepção do povo foi imediata, com imensas filas tomando a calçada da Avenida Ipiranga, no centro de São Paulo, desde que o filme estreou no Cine Windsor. Cópias de Coisas Eróticas percorreram outras salas do Brasil. Oficialmente, 4,7 milhões de pessoas viram o filme. Mas os herdeiros do cineasta acreditam que esse número seja muito maior, pois a fiscalização do público era falha na época.

O lançamento do primeiro filme pornográfico brasileiro foi o começo do fim do cinema popular feito em São Paulo, principalmente das pornochanchadas (que lotavam as salas desde os anos 70), essas sim eróticas, mas hoje inocentes perto de muita coisa mostrada atualmente na televisão. Por causa do sucesso de Coisas Eróticas, os exibidores só queriam levar para as telas filmes libidinosos. Para poder pagar as contas no final do mês, diretores de renome como José Mojica Marins, o Zé do Caixão, Alfredo Sternheim e Ody Fraga tiveram de aderir ao pornô. Mas o mercado de filmes pornográficos entrou em decadência quase uma década depois, com a chegada dos aparelhos de videocassete no País.

Em 1988, tentei entrar pela primeira vez em um cinema pornô, mesmo tendo 14 anos de idade. Peguei a carteira de trabalho de um amigo que na época tinha 18 anos e se parecia comigo. Só tive o trabalho de descolar a foto dele do documento e colar uma minha, na qual ostentava um bigode ralo e mais sem-vergonha que o próprio filme que gostaria de ver. Não lembro qual filme estava em cartaz no Cine Plaza, no Largo 13 de Maio, em Santo Amaro, zona sul, mas entrei na fila confiante que o bilheteiro iria engolir a minha falsificação grosseira. Não tive a oportunidade de tirar essa prova, pois os ingressos acabaram justamente no momento em que chegou a minha vez de comprar.

Após a frustrada experiência, nunca mais tentei colocar os pés em um cinema pornô novamente. Anos depois, assisti em vídeo a quase todos os filmes do gênero produzidos na Boca e me tornei um pesquisador do assunto. Agora chegou a hora de tirar o atraso, mas dessa vez profissionalmente.

Texto publicado originalmente na edição de 17 de fevereiro de 2012 do Jornal da Tarde
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